Translate

terça-feira, 1 de outubro de 2013

A DEFICIÊNCIA E AS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA

Nada melhor do que ter conhecimento de causa. É engraçado que muitas vezes falamos e vivenciamos determinadas situações, mas não chegamos a refletir profundamente sobre elas, o que representam e as conseqüências que trazem para a vida das pessoas. Hoje vou escrever um pouco sobre o que é a deficiência, e tentar fazer um breve histórico da trajetória das pessoas com deficiência.
A palavra deficiência é definida no dicionário como “o termo usado para definir a ausência ou disfunção de uma estrutura psíquica, fisiológica ou anatômica” ou ainda pode ser “o defeito que uma coisa tem ou perda que experimenta na sua quantidade, qualidade ou valor”.
O termo deficiência significa “uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social” (DECRETO 3.956/2001).
Para Silva (1996) “a deficiência não é algo novo na sociedade. Ela sempre existiu desde as mais remotas épocas”. Em seu estudo Andrade (2007) descreve aspectos históricos da deficiência e das pessoas com deficiência, dividindo-os da seguinte maneira:
Pré-história: as próprias atividades do homem primitivo propiciavam a aquisição de algumas deficiências relacionadas ao seu próprio meio de vida. Era bastante difícil manter um deficiente nas tribos. Os deslocamentos das tribos de um lugar para o outro faziam com que os deficientes fossem abandonados, pois, não serviam para produzir ou guerrear. Esse comportamento não representava um problema de natureza ética ou moral. Nas culturas mesolíticas e neolíticas, existiam dois tipos de comportamentos relacionados ao deficiente: o de aceitação e o de eliminação.

Antiguidade: nas culturas antigas, os egípcios acreditavam que as doenças graves e as deficiências eram provocadas por maus espíritos ou pecados de vidas anteriores e buscavam a cura por meio de preces, exorcismo, etc. Na Grécia, existiam leis que favoreciam pessoas consideradas incapacitadas para obtenção ou garantia do seu próprio sustento, porém, ao se tratar do planejamento das cidades gregas, as pessoas nascidas “disformes” eram indicadas para a eliminação, que era por exposição, abandono ou ainda, atiradas das montanhas. Na Roma Antiga, as leis não eram favoráveis às pessoas que nasciam com deficiência. Os bebês que nascessem com características diferentes dos normais eram eliminados, mortos ou colocados em cestos e abandonados nos rios. Os sobreviventes eram explorados nas cidades pedindo esmolas ou passavam a fazer parte de circos.


Idade Média: a Igreja Católica, para se proteger daqueles que representassem uma ameaça, perseguiu e mutilou muitos cristãos, surgindo assim um grande número de indivíduos deficientes. Documentos da própria Igreja reconheciam aqueles que nasciam deficientes como possuídos pelo demônio e representantes do mal. Na filosofia religiosa protestante, os deficientes eram vistos como escolhidos por Deus para pagar os pecados da humanidade.


Idade Moderna: nesse período, muitos fatos e movimentos marcaram a história da humanidade, e alguns não favoreceram em nada as pessoas deficientes, pois, muitas não tiveram o seu lugar ou aceitação na sociedade. Eram colocadas em asilos, abrigos e hospitais psiquiátricos, que constituíram em locais de confinamento para essas pessoas. Esse momento caracteriza-se como o da institucionalização da deficiência. Ocorrem os primeiros movimentos significativos de educação para deficientes, que se inicia com a educação dos indivíduos surdos. Logo depois, na França, inicia-se o processo de educação de deficiente da visão, por intermédio do Institut Nationale dês Jeunes Aveugles. Seu fundador, Valentin Hauy, utilizava letras em relevo para ensinar os cegos.


Idade Contemporânea: em 1819, um oficial do exército francês, Charles Barbier, contribuiu com um método criado por ele, para transmitir mensagens à noite sem utilização de luz. Pouco tempo depois, em 1824, Louis Braile, um jovem francês cego, fez uma adaptação do código de Barbier e criou o método Braille, e embora com todos os avanços tecnológicos, até hoje não se descobriu um método de leitura e escrita para cegos mais eficientes do que o método Braille.


Nesse contexto, observa-se que a vida dos deficientes nunca foi das melhores. As pessoas com deficiência até hoje ainda sofrem com a discriminação e os maus-tratos numa sociedade voltada para o consumismo e o individualismo. Tudo isso pode ser resultado de um processo histórico e cultural onde os deficientes representaram para as diversas civilizações apenas um peso social que deveria ser descartado.
Acredita-se que as sociedades estão em fase de amadurecimento; e temas ligados à cidadania, aos direitos humanos, acessibilidade etc., estão permitindo um novo olhar para esse grupo possibilitando novas relações sociais. Eles sempre carregaram um estigma social.
O grupo de pesquisa do qual participo, o Psicotec, trabalha com diversos projetos voltados para a temática das deficiências, capacitando e qualificando pessoal para trabalhar e atender os PNE, principalmente os de deficiência visual, que será o assunto tratado no nosso próximo encontro aqui pelo blog.


REFERÊNCIAS

ANDRADE, Joelise Mascarello de. Teoria e prática da educação especial. Manaus: UEA, 2007.

BRASIL. Decreto 3.956, de 8 de outubro de 2001. Promulga a Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/d3956.htm>. Acesso em: set. 2013.

DEFICIÊNCIA. Disponível em <http://www.dicionarioinformal.com.br/defici%C3%AAncia/>. Acesso em: set. 2013.

SILVA, Otto de. A epopéia ignorada: a pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1996.


Nenhum comentário:

Postar um comentário