Nada melhor do que ter
conhecimento de causa. É engraçado que muitas vezes falamos e vivenciamos
determinadas situações, mas não chegamos a refletir profundamente sobre elas, o
que representam e as conseqüências que trazem para a vida das pessoas. Hoje vou
escrever um pouco sobre o que é a deficiência, e tentar fazer um breve histórico
da trajetória das pessoas com deficiência.
A palavra deficiência é definida no dicionário
como “o termo usado para definir a ausência ou disfunção de uma estrutura
psíquica, fisiológica ou anatômica” ou ainda pode ser “o defeito que uma coisa
tem ou perda que experimenta na sua quantidade, qualidade ou valor”.
O termo deficiência
significa “uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou
transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades
essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e
social” (DECRETO 3.956/2001).
Para Silva (1996) “a
deficiência não é algo novo na sociedade. Ela sempre existiu desde as mais
remotas épocas”. Em seu estudo Andrade (2007) descreve aspectos históricos da
deficiência e das pessoas com deficiência, dividindo-os da seguinte maneira:
● Pré-história: as
próprias atividades do homem primitivo propiciavam a aquisição de algumas
deficiências relacionadas ao seu próprio meio de vida. Era bastante difícil
manter um deficiente nas tribos. Os deslocamentos das tribos de um lugar para o
outro faziam com que os deficientes fossem abandonados, pois, não serviam para
produzir ou guerrear. Esse comportamento não representava um problema de natureza
ética ou moral. Nas culturas mesolíticas e neolíticas, existiam dois tipos de
comportamentos relacionados ao deficiente: o de aceitação e o de eliminação.
● Antiguidade: nas
culturas antigas, os egípcios acreditavam que as doenças graves e as deficiências
eram provocadas por maus espíritos ou pecados de vidas anteriores e buscavam a
cura por meio de preces, exorcismo, etc. Na Grécia, existiam leis que
favoreciam pessoas consideradas incapacitadas para obtenção ou garantia do seu
próprio sustento, porém, ao se tratar do planejamento das cidades gregas, as
pessoas nascidas “disformes” eram indicadas para a eliminação, que era por
exposição, abandono ou ainda, atiradas das montanhas. Na Roma Antiga, as leis
não eram favoráveis às pessoas que nasciam com deficiência. Os bebês que
nascessem com características diferentes dos normais eram eliminados, mortos ou
colocados em cestos e abandonados nos rios. Os sobreviventes eram explorados
nas cidades pedindo esmolas ou passavam a fazer parte de circos.
● Idade
Média: a Igreja Católica, para se proteger daqueles que representassem
uma ameaça, perseguiu e mutilou muitos cristãos, surgindo assim um grande
número de indivíduos deficientes. Documentos da própria Igreja reconheciam
aqueles que nasciam deficientes como possuídos pelo demônio e representantes do
mal. Na filosofia religiosa protestante, os deficientes eram vistos como
escolhidos por Deus para pagar os pecados da humanidade.
● Idade
Moderna: nesse período, muitos fatos e movimentos marcaram a
história da humanidade, e alguns não favoreceram em nada as pessoas deficientes,
pois, muitas não tiveram o seu lugar ou aceitação na sociedade. Eram colocadas
em asilos, abrigos e hospitais psiquiátricos, que constituíram em locais de
confinamento para essas pessoas. Esse momento caracteriza-se como o da institucionalização
da deficiência. Ocorrem os primeiros movimentos significativos de educação para
deficientes, que se inicia com a educação dos indivíduos surdos. Logo depois, na
França, inicia-se o processo de educação de deficiente da visão, por intermédio
do Institut Nationale dês Jeunes Aveugles. Seu fundador, Valentin Hauy,
utilizava letras em relevo para ensinar os cegos.
● Idade
Contemporânea: em 1819, um oficial do exército francês,
Charles Barbier, contribuiu com um método criado por ele, para transmitir
mensagens à noite sem utilização de luz. Pouco tempo depois, em 1824, Louis
Braile, um jovem francês cego, fez uma adaptação do código de Barbier e criou o
método Braille, e embora com todos os avanços tecnológicos, até hoje não se
descobriu um método de leitura e escrita para cegos mais eficientes do que o
método Braille.
Nesse contexto, observa-se que a vida dos
deficientes nunca foi das melhores. As pessoas com deficiência até hoje ainda
sofrem com a discriminação e os maus-tratos numa sociedade voltada para o
consumismo e o individualismo. Tudo isso pode ser resultado de um processo
histórico e cultural onde os deficientes representaram para as diversas
civilizações apenas um peso social que
deveria ser descartado.
Acredita-se que as sociedades estão em fase
de amadurecimento; e temas ligados à cidadania, aos direitos humanos,
acessibilidade etc., estão permitindo um novo olhar para esse grupo
possibilitando novas relações sociais. Eles sempre carregaram um estigma
social.
O grupo de pesquisa do qual participo, o
Psicotec, trabalha com diversos projetos voltados para a temática das
deficiências, capacitando e qualificando pessoal para trabalhar e atender os
PNE, principalmente os de deficiência visual, que será o assunto tratado no
nosso próximo encontro aqui pelo blog.
REFERÊNCIAS
ANDRADE,
Joelise Mascarello de. Teoria e prática
da educação especial. Manaus: UEA, 2007.
BRASIL.
Decreto 3.956, de 8 de outubro de 2001.
Promulga a Convenção Interamericana para Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2001/d3956.htm>. Acesso em: set.
2013.
DEFICIÊNCIA.
Disponível em <http://www.dicionarioinformal.com.br/defici%C3%AAncia/>. Acesso em: set.
2013.
SILVA,
Otto de. A epopéia ignorada: a
pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS,
1996.
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